- Esses moleques quase me dão pena - Gargalhou a mulher ao lado de Gloom.
- 1 ... 2... - Murmurou a garota, enquanto puxava a mão de dentro do casaco de Shinrykio.
- Gloom, Stun Spore - Gritou, em meio a uma gargalhada estérica, esticando as mãos, quase sentindo o fino pescoço de sua caça.
- 3 - Paty terminou a contagem. Ainda sorrindo, jogou a pokébola. Em toda sua vida, já havia percebido o tempo de reação dos pokémons aos comandos. Mesmo os pokémons que respondiam mais rapidamente, ainda possuíam um tempo padrão.
A Pokébola pegou Gloom em cheio, afinal, quem esperava um ataque vindo de um ser humano desarmado? O pokémon desequilibrou-se e não conseguiu conter o ataque, que foi direcionado à própria treinadora. Gloom recuperou-se rapidamente, demonstrando estar acostumada a adaptar-se em batalhas, mas não recebeu nenhum comando e viu a mulher ajoelhada, sentindo seus músculos incapazes de se moverem.
Paty agarrou Shinrikyo que estava tentando acordar, passou seu braço direito pelos ombros e arrastou-o o mais rápido possível para dentro da mata. O responsável pelo earthquake deveria estar chegando ao campo.
E sumir entre a mata pareceu demorar uma eternidade para a Paty que sentiu rapidamente sua respiração faltar enquanto coria e tentava desviar das raízes. Algumas vezes, ela precisava parar e tentar retomar o fôlego. Achava esplêndido todos àqueles que conseguiam correr longas distâncias ou carregar peso sem ter o mesmo problema que ela. Seu tempo enclausurada parecia ter ajudado sua doença a conquistar mais um pedaço de seu pulmão.
Andava, quase tendo que segurar todo o peso do rapaz. Mas, a verdade é que estava impressionada que ele conseguira acordar tão rapidamente. Seus olhos apresentavam olheiras profundas de quem havia ficado acordado a noite toda. E, sinceramente, acreditava que ele estava dias acordado. Pelo que ele estava se esforçando tanto?
Isso lhe doía o peito, ou poderia ser a falta de ar, porque parte da culpa era dela.
- Droga... - Sussurrou, encostando Shinrikyo contra uma árvore e encostando a cabeça em seu ombro.
Shinrikyo ainda estava sonolento e Paty cansada. O rapaz deixou o corpo escorregar com as costas na árvore e a garota deixou-se cair a sua frente, de joelhos ainda encostando a testa em seu ombro. Respirando fundo.
- Tudo bem... Pode descansar. - Disse ela, em voz baixa. E sentiu o músculos dele relaxarem e a respiração ficar mais lenta. - Eu sinto muito, Shinrikyo-san... - Ele pôde ver seus olhos verdes e sinceros junto às desculpas.
- Amarelo... - Disse ele, desconexo a qualquer situação. E dormiu novamente.
- ... - Ela nada complementou e se quer fez força para entender o que ele dissera. Levou a mão ao cinto do rapaz e agarrou duas pokébolas e mais um aparelho que identificou como pokédex.
Esperou sua respiração alinhar-se a de Shinrikyo, pesada e vagarosa. Levantou-se e seguiu andando.
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A cada passo que dava em rumo ao nordeste, a chuva se tornava mais intensa. Estava ensopada, mas ainda não sentia o cansaço no corpo. Havia pego algumas frutas no caminho, a plantação que não se adaptava a chuvas torrenciais por longo tempo já havia começado a perecer.
Decidira caminhar até o dia seguinte, mas a fome já havia tomado todo o seu corpo, diminuindo o tempo para apenas até o anoitecer. Tudo se perderia se ela forçasse a si mesma até o limite logo após ... despertar, ou seja lá como isso pode ser chamado.
A chuva era intensa e as gotas só não doíam por serem diminuídas pelas copas das árvores. Parou por um momento ao avisar uma clareira que visivelmente havia sido aberto a força, abaixou-se e aguardou.
Nenhuma folha se moveu desde que chegara ali, ergueu-se novamente e esgueirou-se pelas árvores, dando a volta pela clareira indo em direção a entrada do que parecia ser uma gruta. Engoliu uma dose de coragem e quando essa espalhou-se pelo corpo, saiu de trás da árvore e foi até a entrada. Não havia nada lá.
Entrou e ficou algum tempo parada, com as orelhas assustadas de um coelho. O tempo e o som da chuva lhe deram calma para entrar e encontrar uma boa pedra para colocar as frutas que havia colhido. Deu um timido sorriso, satisfeita pela colheita e ansiedade em comê-las.
- Ah, eles devem estar com fome. - Pegou as duas pokébolas e liberou os pokémons de Shinrikyo.
- ... - Ambos pokémons a olharam em silêncio por alguns segundos, visivelmente irritados. Charizard foi o primeiro a pular sobre ela, urrando violentamente enquanto a imbolizava no chão.
- hpmf... - Gemeu ela, batendo as costas contra o chão. - Charizard... - Disse ela baixinho. Ele grunhiu e mostrou os dentes em resposta. Paty havia levantado sua mão e ele pode vê-la tremer. Charizard sabia que seu rugido era capaz de amedrontar até o mais assustador e maior dos pokémons, não era difícil assustar uma menininha qualquer. - Shinrikyo está bem... - A voz dela continuava baixa e finalmente sua mão pousou na cabeça do pokémon.
- !? - Ele tinha certeza que o cheiro que estava no ar era medo, então porque ela ousava a afagá-lo? Como podia ela saber se ele estava bem? Irritou-se e urrou o mais alto que pode, em fúria.
Ela nada disse até que ele cansasse de berrar e finalmente olhasse em seus olhos. Ele estava certo, os olhos dela estavam cheios de medo, mas entendeu que não era medo dele e de toda sua poderosa fúria, mas medo de perder... De perder o que? Eles haviam se arriscado para salvá-la e ele viu que ela não carregava nada, então o que ela temia ser tirado dela além da vida que possuía? Como ela podia ter olhos tão sinceros?
- Ele estava cansado e eu não podia ser egoísta em pedir mais dele. - Continuou ela - Nunca conseguiríamos correr a tempo se eu não fosse uma distração enquanto ele descansava. Mas, sinceramente, eu não poderia correr sozinha ou todo o esforço de vocês seria em vão se eu morresse na esquina seguinte. - Ela sentia o peso das patas de Charizard aliviando em seus ombros - Você é um bom companheiro, Charizard. - Ela deu um sorriso tão acolhedor quanto o calor de sua chama em dias frios - Eu também tinha amigos preciosos para mim. - E ele notou que o sorriso era triste e o verde que estava a minutos adimirando tornaram-se molhados.
- Grr... - Percebeu que sua fúria não era raiva e nem ódio. Notou o que a garota já havia percebido antes mesmo de tê-lo tirado da pokébola, que ele estava com medo também. Medo de perder... O cheiro que sentia não era dela, mas dele mesmo. O que faria ele sem a única pessoa capaz de entendê-lo? De domar sua fúria? O único ser humano que realmente valia a pena lutar ao lado!
Claro, para prenderem ela, tiraram seus pokémons a força, concluiu Charizard. Compartilhou de seu medo e aceitou sua dor. Ficou preso às lágrimas dela e seus soluços acalmaram seu coração.
Sentiu o chicote de vinha em seu ombro. Saiu de cima dela e encarou Ivysaur, que parecia sorrir para ele de alguma maneira, como se o insultasse por não ter acabado com ela de vez, mas fez o certo. Ninguém mais falou nada por algum tempo, apenas ouviam o barulho da chuva contra o chão e junto dele o baixo choro pelas tristes lembranças.
- Né... - Enxugou o rosto com a roupa molhada e olhou para os dois pokémons - Você estão com fome? Eu peguei comida para nós no caminho. Comam, comam - Disse, com os olhos avermelhados e voltando a sorrir. Levantou-se por fim e apontou para a pedra.
Aguardou os dois comerem sem cerimonias e teve a sorte de sobrar uma ou outra fruta menor que engoliu de qualquer jeito, parecendo ter esquecido como se come e sentindo o gosto novamente. Abriu um sorriso maior e olhou para eles.
- É a coisa mais gostosa que eu já comi! - Alegou, e imaginaram se estava falando da amora ou da jabuticaba que ela havia enfiado na boca.
Caminhou até um canto e encostou-se em uma pedra. Sentou e puxou as pernas, estava frio.
Ivysaur sentou ao seu lado e deitou sem preocupar-se com o olhar assutado da garota, ela sorriu e a mão direita soltou do joelho e parou sob o verde da cabeça do pokémon. Alguns minutos se passaram e antes que ambos tremessem de frio, Charizard colocou-se em frente aos dois, sentou-se e deixou a calda no meio dos três. Ninguém precisou falar nada sobre aproximação ou agradecimentos, a garota sorriu abertamente e, de forma sincera, todos estavam felizes.
- Agora é só esperar... - Disse ela. E nenhuma outra afirmação ela fez que pudesse responder os olhares curiosos. Apenas continuou olhando para o fundo da caverna, enquanto a noite avançava.
Charizard e Ivysaur não ousaram dormir vendo a garota em vigia. E todos aguardaram.
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